Paula Heimann

Paula Glatzko, filha de pais russos, nasceu em 03 de fevereiro de 1899 em Danzig (Alemanha), cidade que viveu com sua família até iniciar seus estudos de medicina em Köenigsberg. No último ano do curso, casou-se com Franz-Anton Heimann. Em 1925, concluiu sua graduação e foi para Heidelberg, iniciando sua especialização em psiquiatria na conceituada universidade alemã que leva o mesmo nome da cidade.

No ano de 1928 mudou-se para Berlim, para iniciar sua formação no Instituto de Psicanálise. Concluiu essa primeira etapa em 1933. Seu primeiro analista foi Theodor Reik. Heimann divorciou-se e emigrou para a Inglaterra com sua única filha. No seu primeiro ano em Londres, ainda em 1933, tornou-se membro associado da Sociedade Britânica de Psicanálise.

Iniciou sua análise com Melanie Klein em 1935 (não se sabe ao certo a data do término dessa análise). Junto com Susan Isaacs, tornou-se firme defensora da teoria kleiniana. Em 1955 abandonou o grupo kleiniano da Sociedade Britânica de Psicanálise, após discordar de Melanie Klein. Heimann tornou-se membro do grupo independente de psicanalistas da sociedade até seu falecimento, em 28 de outubro de 1982.

Depois da Guerra, retornou para a Alemanha e auxiliou na formação de analistas alemães na Clínica de Psicossomática de Heidelberg. Mais tarde foi para Frankfurt dar aulas no Instituto Sigmund Freud. Vários outros importantes institutos de Psicanálise da Europa, Estados Unidos e América do Sul convidaram-na para realizar seminários e apresentar seus importantes artigos durante os anos seguintes.

Paula Heimann escreveu no total trinta artigos. Suas primeiras contribuições, no desenvolvimento dos conceitos sobre objetos internos e regressão, foram de grande importância para a teoria kleiniana. Mais tarde, em outros artigos, levantou a discussão sobre problemas clínicos e questões técnicas; em particular, sobre diferentes aspectos da formulação e manejo das interpretações, transferência, setting psicanalítico e, principalmente, contratransferência.

Seu artigo mais importante e revolucionário, “Contratransferência”, foi apresentado pela primeira vez em 1949, no 16º Congresso Internacional de Psicanálise da IPA. Este artigo foi considerado um divisor de águas na história da técnica psicanalítica, pois Heimann iniciou o questionamento da postura defensiva dos analistas em formação. Foi divisor de águas também, no relacionamento com Klein, pois provocou o rompimento das duas. Klein solicitou a Heimann que retirasse seu artigo do Congresso da IPA, pois estava desconfiada do potencial mau emprego deste conceito. Heimann, contudo, recusou-se a retirar o artigo e assumiu sozinha o crédito pela importante inovação.

A contribuição de Paula Heimann foi a introdução do conceito de contratransferência, que menciona a delicada questão dos sentimentos do analista pelos seus pacientes. O artigo defende a idéia que o analista utilize sua “resposta emocional” durante a sessão analítica como guia, e sirva como instrumento de investigação do inconsciente do paciente.

O polêmico artigo influenciou muitos outros autores durante as décadas de 50 e 60, como Money-Kyrle, Leon Grinberg e Heinrich Racker e, mais tarde, Brenman Pick (1985) e Rosenfeld (1987).

Heimann já tinha proporcionado fervorosas discussões sobre outros conceitos psicanalíticos, como sublimação e instinto de morte (1942, 1952), ainda sob o ponto de vista kleiniano, mas acabou revisando-os em artigos posteriores (1959 e 1964).

Suas importantes contribuições serviram para produtivas discussões em vários Congressos Internacionais de Psicanálise (1962, 1964, 1966, 1970). Seu esforço serviu para clarear idéias e, principalmente, estabelecer o importante conceito de contratransferência no processo psicanalítico.

Bibliografia

  • Heimann, Paula (1942), “A contribution to the problem of sublimation and its relation to processes of internalization”, Int. J. Psycho-Anal., 23:8-17
  • Heimann, Paula. (1950). On counter-transference. International Journal of Psycho-Analysis, 31, 81-84.
  • ——. (1952). Certain functions of introjection and projection in early infancy. In Klein, Heimann, Isaacs, and Riviere (Eds.) Developments in Psycho-Analysis (p. 122-168). London, Hogarth.
  • _ _.(1960), “Counter-transference”, Br. J. Med. Psychol., 33:9-15
  • ——. (1962). Contribution to the discussion of “The curative factors in psycho-analysis”. International Journal of Psycho-Analysis,43, p. 228-231.
  • ——. (1989). About children and children-no-longer. Collected papers of Paula Heimann 1942-1980. M. Tonnesmann, London/New York: Tavistock Publications/Routledge.
  • King, Pearl H.M., and Steiner, Riccardo. (1991). The Freud-Klein controversies 1941-1945. London/New York: Tavistock Publications/Routledge.
  • Heimann, Paula e Issacs, Susan (1952), “Regression”, em Melanie Klein, Paula Heimann, Susan Isaacs e Joan Riviere (orgs), (1952), Developments in psycho-analysis,Hogarth,p.169-97.
  • Heimann, Paula e Valenstein, Arthur (1972), “The psycho-analytic concept of aggression”, Int. J. Psycho-Anal., 53:31-5

Resenha elaborada por Rita Andréa Alcântara de Mello, psicanalista em formação pelo Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.